Hospital Nosso Lar, um Departamento do Centro Espírita Discípulos de Jesus, entidade com fins Filantrópicos para tratamento de pessoas com doenças psiquiátricas e mentais, poderia ser resumido da seguinte forma:
Em 1948 e 1949, um grupo de pessoas beneméritas, tendo a frente a idealizadora da obra, Senhora Maria Edwiges Borges, dispuseram-se a construir um hospital psiquiátrico em Campo Grande, uma vez que ficou sensibilizada com as pessoas que apresentavam problemas mentais de comportamentos, e assim, tinham que ser recolhidas à cadeia pública, o que era um ato de desamor.
Tudo começou quando o Centro Espírita Discípulos de Jesus já tinha na sua Presidência Dona Maria Edwiges Borges e, na época, fazia ela atendimentos sociais à cadeia pública desta cidade, fornecendo aos detentos internos bolos, chocolates, refrigerantes, revistas, livros.
Nessa época ela conheceu duas professoras que estavam recolhidas naquele local, obtendo informações de que elas moravam em um pequeno sítio de Campo Grande em companhia do pai e da empregada. Certo dia, em sua casa, quando estavam jantando, surgiram, inesperadamente uns homens encapuzados que, dirigindo-se ao velhinho, o pai, esfaquearam-no friamente, enquanto as moças, apavoradas, saíram correndo e esconderam-se em um terreno baldio. A empregada da casa, assustada, desapareceu até o amanhecer do dia seguinte, tendo esta se dirigido depois, a delegacia para formalizar a queixa. O pai, não resistindo os ferimentos, havia morrido, tendo as moças sido encontradas, após cinco dias do acontecimento, ambas em estado de choque. A mais nova apresentava desassossego com olhar de pavor, enquanto que a outra estava parada, completamente catatônica. Ninguém quis acolhê-las, temendo piores reações e, diante disso, resolveram levá-las para a Cadeia Pública, já que não havia como socorrê-las.
Na próxima visita, como de costume, aos presos, D. Edwiges procurou saber das duas professoras e, sendo levada às suas presenças, ficou chocada ao ver que ambas apresentavam um estado de gestação, já era visível a perturbação em que se encontravam.
D. Edwiges, de regresso à sua residência, fez todo o percurso a pé, em completo silêncio. Seu pensamento trabalhava com extrema velocidade num turbilhão de idéias. Chegando à sua casa, relatou o ocorrido ao seu esposo, Major Gumercindo Bruno Borges, acrescentando: vou construir um Hospital para doenças nervosas e mentais na cidade de Campo Grande em nome do Centro Espírita Discípulos de Jesus, trata-se de uma necessidade urgente.
O então Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, não possuía atendimento na área psiquiátrica. Eram situações lamentáveis e calamitosas que se viam freqüentemente nesta cidade, um verdadeiro chamado ao sentimento de humanidade e amor cristão.
Com recursos angariados através dessa abnegada Senhora, muitos anos transcorreram-se na construção do referido hospital. Na segunda quinzena de janeiro, ano de 1966, D. Edwiges visitava a Imprensa falada e escrita desta cidade, e marcando dia e horário para cada um conhecer o hospital. Dos convidados nenhum faltou.
Os repórteres perguntavam: quantos leitos tem o hospital? Resposta: inicialmente vamos ocupar de um a vinte e com o passar dos anos manteremos 200 leitos, quantidade que aumentou um pouco mais atendendo entre SUS e convênios e particulares 220 leitos.
Perguntavam se haveria uma inauguração, no que ela disse: A inauguração será uma Prece com a entrada dos pacientes. Assim será, e estaremos muitos satisfeitos. Tudo aconteceu segundo o programado.
No dia 27 de janeiro de 1966 ela fez uma fervorosa oração, agradecendo a Deus a oportunidade de servir aos nossos semelhantes.
Na ocasião, para aqui trabalharem, todos que assumiram atividades no hospital fizeram treinamentos de muitos meses em hospitais psiquiátricos do interior do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro, receberam treinamento no Centro Psiquiátrico Nacional (Federal) onde foram ministradas orientações teóricas e práticas de: administração, enfermagem, farmácia, rouparia, lavanderia, cozinha, etc…
A equipe era formada de 13 elementos, sendo 9 moças e 4 rapazes. Hoje o número de funcionários do hospital é de aproximadamente 215.
Anos depois, se complementou a segunda parte do projeto, foi construído mais um pavilhão, hoje chamado Recanto de Paz.
Podemos afirmar que este novo pavilhão representou um verdadeiro ato de pioneirismo no atendimento hospitalar e seu significado apenas uma gota dágua no oceano da enormidade de pessoas que acorrem a procura de benefícios, vindas de todo interior do Estado, Estados vizinhos e até de países fronteiriços, uma vez que fazemos limites com a Bolívia e Paraguai. A procura por vagas é sempre maior do que se pode oferecer.
Maria Edwiges Borges, assumiu também a Diretoria da então Fraternidade Espírita Educandária de Mato Grosso – Casa da Criança – Creche Escola em 30/12/76, sendo eleita por unanimidade dos sócios sua diretora, atendendo hoje 122 crianças de 1 a 3anos e 11meses, com aproximadamente 20 funcionários, mas continuando com seu trabalho simultâneo no atual “Hospital Nosso Lar”. Hoje, a Fraternidade Educacional – Casa da Criança, é um Departamento do Centro Espírita Discípulos de Jesus, como o é, também, o Hospital Nosso Lar.
Dona Edwiges, como é conhecida, dirigiu esta entidade até o seu desencarne, alterando-lhe a denominação para Fraternidade Educacional – Casa da Criança. Reorganizou sua estrutura física e educacional, ampliando seus objetivos no atendimento à população carente.
Em 1994 concederam-lhe o título de Presidente de Honra do Centro Espírita Discípulos de Jesus, pelos relevantes serviços prestados ao movimento espírita de Campo Grande.